Nome: Beatriz Iky Alves
Mais conhecida por: Bia
Nascimento: 20 de fevereiro – 32 anos
Signo: Peixes
Nacionalidade: Portuguesa
Profissão: Advogada
Estado Civil: Complicado, mais para solteira à procura
Mora: Nekane, sozinha
Não vive sem: Cartões de créditos, blogue, fazer listas
Como ela é: Bia é uma algarvia, energética, precipitada, sem grande controlo sobre as suas emoções, e muito atrapalhada. Sua pele é branca, daquelas que no verão ficam tipo lagosta. A estatura é média, mas vive com medo do efeito sanfona ou de acabar com o rabo em formato de braille, cheio de altos e baixos. No seu blogue, afirma de boca cheia que: 1. não ouve vozes; 2. não é insegura; 3. não tem conduta paranóica; 4. não é obsessiva compulsiva, nem sofre de ansiedade no geral. Acredita que a esperança é a última a morrer, embora às vezes possa ser a primeira a matar.
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Bem-vindos ao Reino de Gastón, preso ao norte de Portugal e de Espanha por uma unha negra. Para além de paraíso fiscal, Gastón é também paradeiro de celebridades e refúgio para lavagem de dinheiro, nomeadamente da máfia italiana. É em Gastón que encontramos a advogada Beatriz Alves.
As coisas não estão fáceis para Bia, como prefere ser tratada. Sem dinheiro para manter o estilo de vida glamoroso do reino, desabafa com os leitores do seu blogue, confessando-se uma “duranga” crónica. Para complicar mais as coisas, Vítor, o seu chefe, responsável pela sua estadia em Gastón, é alguém por quem nutre sentimentos confusos e contraditórios.
Ainda não se recuperou da depressão causada pelo iminente divórcio com Roberto, a sua alma não tão gémea assim. E, para cúmulo, apaixonou-se perdidamente pelo príncipe Carlos Henrique, um tenista mulherengo e herdeiro do trono de Gastón.
Será a atrapalhada Bia capaz de resolver os seus problemas emocionais e financeiros sem se envergonhar perante as elites do reino?
Domingo, 23 de Fevereiro
Carência e irritabilidade: 50%
Humor: 50%
Saldo: 595,69 libras, Visa e Mastercard quase negativos
Bia, tens novas mensagens de e-mail
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: segunda-feira, 01 de Julho 16:31:47
Espero que estejas bem. Tento ligar-te e nada. O telemóvel só dá desligado e os e-mails voltam. Já passaram 19 dias, porra! Precisamos de ter essa conversa. Talvez possas telefonar-me. Entendo que as coisas estejam confusas, mas temos de falar. Responde! P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: quinta-feira, 08 de Agosto 23:09:32
Tens recebido os e-mails? Onde está a meia de liga de renda vermelha? Levaste para Cambridge? Telefona-me! P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: domingo, 15 de Setembro 08:17:23
Vamos entrar no terceiro mês e continuas a ignorar-me. Sei que te chateio muito, mas é porque precisamos de conversar. Até quando pretendes continuar com isto? Não sejas uma chata, pára lá com estas tretas. Há preconceito, mas o importante somos nós. O que aconteceu é passado, merecemos outra oportunidade. P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: sexta-feira, 11 de Outubro 17:34:09
OK! Já percebi! Não queres falar comigo, e eu entendo, juro que entendo. Sabes bem que vais voltar para o Algarve. Achas que podes fugir de mim para sempre? Só eu te posso dar o que tu realmente queres. Sabes disso tão bem quanto eu. Mas tudo bem, precisas de espaço, de tempo… Não te chateio mais. Viste o novo anti-rugas da Dior? Vou comprar. P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: quarta-feira, 27 de Novembro 05:52:11
Tu mudaste? Eu menti! Não quero dar um tempo, já te dei espaço demais! Fui a Cambridge e eles disseram-me que já não moras naquela república de estudantes! Não me avisaste porquê? Sei que não queres falar comigo, afinal, andas a ignorar os e-mails, mas precisavas de desaparecer no Reino Unido? Já passaram 5 meses! 5 meses sem enfrentares a realidade. Até quando vamos continuar com estas tretas? Comprei um primer da MAC da cor dos teus olhos. P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: terça-feira, 24 de Dezembro 10:19:28
É Natal, será que vamos estar juntas? Será que finalmente iremos colocar os pontos nos iis? Esta situação está cada vez mais insuportável. Tenho enviado menos e-mails, dar o espaço que pediste, mas é difícil. Espero que tenhas um PÉSSIMO Natal! Ah! Estou a usar as tuas tanguinhas da Victoria’s Secret. P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: terça-feira, 14 de Janeiro 22:51:13
7 meses, Bia! 7 meses! 7 meses em que não vens a casa! 7 meses que me ignoras! Os teus pais não me dão o teu contacto. O Lipe esconde-se de mim. A Tasha odeia-me, e o Lucas ri-se na minha cara. Por mais quanto tempo vamos continuar com estas tretas infantis? Tens de voltar a ser racional para colocarmos as cartas na mesa! P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
De: Fran francescatoura@gmail.com
Para: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: sábado, 22 de Fevereiro 03:29:44
Estamos no segundo mês do ano e continuo sem notícias tuas. Sei que o mestrado acaba agora. Estou à tua espera. Vais ver que desta vez dá tudo certo. Telefona a dizer em que dia chegas. Quero ir buscar-te ao aeroporto. Mal posso esperar para te dar um banho de amor de língua, minha toura. P.S.: Estás a ser infantil! Amo-te, Francesca
Tens a certeza de que desejas excluir os e-mails seleccionados?
SIM!
Segunda-feira, 24 de Fevereiro
Carência e irritabilidade: 69%
Humor: 31%
Saldo: 583,61 libras, Visa e Mastercard quase negativos
1.Publicado por Bia, às 21h47.
O BLOGUE.
Santa Prada de Milão! Que demora! Se soubesse que iriam demorar tanto, juro que tinha ido lá. Tudo bem, o horário de entrega do restaurante A Tasca já encerrou, mas daí a precisarem de uma hora para fazerem uma entrega é uma falta de respeito!
Moro aqui há meses! Sou membro da república de estudantes da University Arms Mouse e tão portuguesa como os funcionários do restaurante! Imagino o que seria se não fosse. O melhor é arrumar os presentes e esquecer o assunto.
Sinto uma sensação gelada a percorrer-me o corpo enquanto ando pelo quarto. É a mesma que experimentei quando me mudei para cá. Incrível como posso ter a mesma sensação ao chegar e ao partir, em condições tão distintas. É confuso.
Poderia ser sempre controlada, não? Imagina se eu pudesse manter aquele sorriso de orelha a orelha quando os cromos dizem que vão telefonar, sem intenções de gastarem um cêntimo do saldo do telemóvel?
Mas não. Não consigo controlar o meu peso, nem a conta do banco, quanto mais o que sinto. Falando em conta bancária… acho que ultrapassei o limite dos cartões. Porém, não posso chegar ao Algarve de mãos a abanar. Estou em Cambridge, a mais de 80 quilómetros de Londres.
Viajo daqui a alguns dias para casa. Se chegar sem presentes, serei chamada de forreta.
Campainha… deve ser o jantar.
***
O quê? 33 libras? Mais um roubo! Como pode um simples jantar ser 33 libras?
Smoked chicken with madeira sauce & foie gras cream £5.50
Salmon fillet with olive oil £15.00
Caramelized banana with vanilla ice cream £6.50
St. Hallett Chardonnay, 750ml £5.00
Delivery Service £1.00
TOTAL £33.00
― Tens a certeza de que não se enganaram a fazer as contas? ― pergunto ao rapaz, enquanto passo e repasso os olhos pelo recibo.
― Eu só entrego, senhora. Deseja pagar como? Dinheiro ou cartão?
― Aceitas abraços? ― escancaro um sorriso e os braços.
― Não…
― Hum… divide em doze vezes ― digo, quando lhe entrego o Visa.
― Doze vezes só em contas a partir de 100 libras…
― Isso é discriminação com os durangos, sabias?
― Durangos? ― repete
― Sim, pessoas com o dinheiro contado, tesos!
― Desculpe, não sou eu que faço as regras ― afirma, ― O que deseja fazer?
― Pagar!
Enquanto ele insere o cartão na maquineta, rezo aos meus santos para que não seja recusado. Sabes aquele silêncio de segundos antes de aparecer transacção aprovada? Para mim é uma eternidade. Fecho sempre os olhos…
― Aceite! ― diz ele, empurrando-me a encomenda bem rápido.
Só quando o tipo me some da frente é que vejo o brasileiro do quarto ao lado de speedo, com um espeto de linguiça na mão, especado, a olhar para mim como se eu tivesse acabado de trocar de sexo. Desapareço rumo ao sofá (porta trancada!) antes que me peça outra vez para lhe pendurar os bóxeres rotos no meu estendal.
Vamos é ao que interessa! Tenho o corpo todo a dar horas, não é só o estômago.
Ah… muito melhor… confesso que sentirei saudades deste sofá!
Bem! Não quis aborrecer-te com as minhas agruras, em especial as financeiras, portanto, se em dois ou três parágrafos reclamei demais, se me mostrei chata, não foi intencional.
Queria apenas desabafar, libertar as tensões. Tu sabes como é. Aliás, desabafar e libertar as tensões é o que aconselha o livro Os 50 Tons da Depressão, a minha bíblia de auto-ajuda.
Pelos vistos, só conseguimos resolver os problemas depois de os identificarmos.
Como tal, decidi escrever um diário. Um registo quotidiano que me permita depois observar as minhas mudanças de humor, e o que me acontece de bom ou mau. É o que aqui tenho: um blogue, a minha terapia. O diálogo interior comigo e com o mundo.
Mas não me julgues louca ou atrapalhada. Que fique bem claro que: 1.º, não ouço vozes; 2.º, não sou insegura; 3.º, não tenho conduta paranóica; 4.º, não sou obsessivo-compulsiva; 5.º, tão-pouco sofro de ansiedade no geral.
OK! Talvez não tenha sido muito sincera em relação ao ponto dois… Às vezes sou um pouco insegura, mas vá, só um bocadinho, nada que abale a minha autoconfiança. Em relação aos pontos três e quarto, não vale a pena falar sobre isso.
Recordo-me de quando tinha 8 anos e passava horas em frente ao espelho para ver as mamas a crescer. Isso realmente aconteceu, as mamas ganharam volume, mas somente alguns anos depois. Nossa! São tantas paranóias e loucuras! Reconheço que tenho uma certa tendência a comportamentos estranhos… Sei que, nesta altura, deves estar a perguntar: quem é esta transtornada que quer pagar contas com abraços?
Chamo-me Beatriz, tenho 32 anos, sou solteira e à procura, ou com sorte, muita sorte, futuramente comprometida. Afirmam os linguarudos-bocudos, vulgo os fofoqueiros, que tenho um cérebro do tamanho de uma ervilha estufada. É que, ainda por cima, depois de estufada a ervilha diminui. Um rol de calúnias, é o que te digo. Em relação ao meu cérebro, não à ervilha.
Tudo bem, não sou nenhum génio. E depois? Sou normal. Algum problema nisso? Consigo ser tão sofisticada e adulta como qualquer pessoa. Para que saibas como sou, tenho pele mesmo branca, daquelas que no Verão ficam tipo lagosta. A minha estatura é média, mas vivo com medo do efeito sanfona ou de acabar com o rabo em formato de braille, cheio de altos e baixos. O meu cabelo é castanho-escuro comprido com fios cor de chocolate. Os olhos são castanhos como tanta gente em Portugal.
Francesca diz que sou muito bonita, mas confesso que nem sempre fui assim. Logo ao nascer caí na excepção. Fui presenteada com: 1.º, dois dentes afastados que lembravam um túnel; 2.º, uma pinta em cima do lábio, que mais parecia uma carraça; 3.º, um pouco de estrabismo. Não que alguma vez tenha tido de virar a cabeça estilo exorcista para olhar para as pessoas, mas aqui entre nós? Estava longe de ser normal. O que vale é que também não havia muito para ver naqueles tempos. Isso viria depois.
Acho que nem é preciso dizer que tive uma adolescência miserável. Os caramelos da escola Laura Ayres em Quarteira (diz-se “em” e não “na” Quarteira!) não passavam de uns gozões! Eu era a quatro-olhos, a vespa vesga e a boca do inferno, entre outras coisas.
Depois de passar anos a sofrer bullying pelos meus colegas, ao terminar o secundário, os meus pais, num ataque de generosidade, predispuseram-se a pagar a amputação da carraça, e uma correcção ao globo ocular. Transformei-me numa jovem normal, hoje em dia com um pouco de argamassa, que alterna entre o laranja radioactivo e o branco do Casper, até consigo ficar bem sensual.
Também não vivo obcecada por relacionamentos em potencial. Para além do mais, uma boa parte dos homens por quem me interessei acabaram por desaparecer ou trocar-me por: uma versão feminina do The Rock (aquelas todas grossas), girafa loira ou ninfomaníaca.
Ainda assim, acredito na minha alma gémea. Só pode andar por aí à minha procura! Até porque a esperança é a última a morrer, embora eu saiba bem que também pode ser a primeira a matar…
Profissionalmente, não sei se sou bem-sucedida ou não. Completei há um mês o Mestrado em Direito das Relações Internacionais, no Clare College, de Cambridge. É o meu novo começo. Também já sou advogada júnior efectiva no escritório Bettencourt & Associados na filial de Faro.
O emprego? Foi o meu tio, um juiz de renome, amigo dos sócios, que mo arranjou. Mas não é por falta de competência minha, hã? Aliás, bastou um dos sócios, o Shay Bettencourt, olhar para mim para dizer logo que eu tinha todas as qualificações necessárias.
A coisa não ficou por ali. Fui submetida a um duro processo de avaliação. O B&A é um escritório brasileiro com filiais em redor do mundo, que prima pela qualidade e pelo profissionalismo. Se até aqui tenho sido uma pita mimada com o sustento dos papás… Esse tempo acabou. Deseja-me sorte!
Dito isto, podes ver que não venho de nenhum lar destruído ou de uma família de traficantes de piripíris. Ainda que, durante uns meses, o meu pai tenha sofrido agudamente da Síndrome de Redução Genital.
O homem jurava a pés juntos que a sua enguia de bolso estava a encolher. Consequência de ter sido preso no 25 de Abril enquanto participava numa manifestação contra o Salazar. O velho acabou enjaulado com gajos com enguias de bolso maiores do que a dele. Isso deu-lhe cabo da cabeça.
De início andava constantemente de mãos nos bolsos, para ter a certeza de que aquilo não diminuía. Com os anos, a coisa tem-se vindo a agravar. Já andou com réguas dentro das calças para fazer medições sempre que ia à casa de banho. Com meias enfiadas no material para que este não encolhesse com o frio.
Agora anda mais calmo, todavia tem sempre qualquer coisa incorporada nas cuecas para conseguir sentir-se mais à vontade. Tirando esse detalhe, ele é uma pessoa normal, excepto quando abre a boca para falar. O meu pai é algarvio de raiz. Não importa quantas viagens faça ao exterior ou com quem conviva.
Na sua opinião, o Algarve é o lugar mais impertante do mundo, demódes que deve ser honrado com o palavrar tradicional. De acordo com ele, esse é o único jête de manter viva a cultura da nossa região, visto que a maior fonte de rendimento do Algarve é precisamente o turismo. E, por favor, ai de nós se tentarmos corrigir o homem! Ele fica logo todo marafade.
Em relação à minha mãe, bem… nem sei por onde começar. A dona Stela é brasileira, e assim como o meu pai, tem problemas sérios com a linguagem. Ela não consegue perder o sotaque. Não me admira, porque passa mais tempo na pátria a fazer cirurgias e tratamentos estéticos do que em Portugal. A coitada não aceita a velhice. Tem tanto silicone e botox que está a um dedo de ficar deformada.
Mas vá lá, independentemente das fobias de um e de outro, os velhos têm um casamento feliz. Moram numa excelente vivenda no Vale do Lobo. Uma coisa aprecio neles, mesmo com a sua considerável fortuna, nunca fizeram questão de pertencer à alta sociedade, até porque com aquele falar do meu pai eles, seriam massacrados pelos média.
Aqui entre nós, eu não acho que ele se importe. E a minha mãe, contanto que pareça uma menina de 20 anos nas fotografias, o resto é resto.
Sobre o dinheiro da família, este veio do lado do meu avô paterno, que era produtor e exportador de vinhos, porém, a fortuna tem sido dilapidada a bom ritmo de geração em geração. Claro que quando chegar a minha vez, ou já está tudo teso ou pouco faltará para lá chegarmos. Embora eu tenha a esperança de que o meu cunhado consiga impedir isso, visto que é ele que se encontra à frente da empresa.
Voltando a mim… apesar da confusão actual com a Francesca, e acredita que os problemas são muitos, não sou o protótipo da filha rebelde. Isso é com a minha irmã mais velha, Natasha das Mãozinhas.
Sempre fui mais para calada e obediente. Mentiras, apenas as inocentes. Álcool, só até entaramelar a língua. E ainda que tenha tido o meu ano louco adolescente, não fiquei com quaisquer sequelas, como vês, sou híper-super-normalíssima.
Sei que depois de tudo isto te custe a crer que me transformei numa perturbada de primeira linha. Eu própria não sei quando é que isso aconteceu e tornei-me tão alterada. Quer dizer, foi em Junho do ano passado que a Francesca fez a minha vida desmoronar, mas acho melhor guardar isso para outra altura. Agora, o melhor a fazer é comer e terminar de fazer as malas.
Sexta-feira, 28 de Fevereiro
Carência e irritabilidade: 80%
Humor: 20%
Saldo: 502,73 libras, Visa e Mastercard negativos
2. Publicado por Bia, às 15h12.
O PURGATÓRIO.
Quando penso que as coisas não podem piorar, a Lei de Murphy entra em acção para me lembrar de que sou apenas humana e zás, atira-me de volta para a escuridão. Hoje foi um dos piores dias da minha vida.
Acordei com uma chamada do B&A a dizer que tinha uma reunião ao meio-dia na filial da UpperBank Street. Fiquei logo ali com dores de barriga, já para não falar dos enjoos que tenho tido.
Sempre desconfiei daquela comida de entrega d’A Tasca. Muito carcanhol para pouca qualidade, mas agora tenho de me aguentar à bomboca.
Trabalhei na Coleman Street até à semana passada, altura em que me confirmaram que estava efectiva em Faro. Tinha consciência de que uma convocação de última hora da UpperBank apenas poderia significar uma coisa: despedimento.
Nunca vi ninguém regressar de lá aos berros de felicidade porque recebera uma promoção. Não, quem vai lá é mesmo para levar o proverbial chuto nas nádegas. E neste momento as minhas precisam é de carinho, não de violência no local de trabalho.
Enfim, após uma viagem que envolveu troca de autocarro e duas paragens, cabeça a latejar, três idas ao WC, tudo debaixo do costumeiro céu cinzento, sem brilho e ameaçador, cheguei a Londres. O calor era de tal forma sufocante, que as pessoas andavam na rua a olhar para todos os lados, como se o apocalipse estivesse à espreita, à espera de as apanhar distraídas.
Acho que os brits não percebem esse conceito de calor… Para eles há apenas um mau tempo generalizado com frio, chuva, má disposição. Também granizo a cair do céu para lhes rebentarem os guarda-chuvas. Tanta tecnologia para o clima ainda lhes ser um mistério. Juro que não percebo esta gente…
Semiviva, entrei no B&A.
A angústia tomou conta de mim. Não podia aceitar que me iriam mandar embora. Os meus sonhos de uma carreira gloriosa estavam a acabar mesmo ali, antes de terem começado. Uma falta de chá incrível. Ainda mais grave quando isto se passa em Inglaterra.
Jamais iria aparecer na televisão! Eu, uma mulher influente e com opiniões que os outros fariam bem em ouvir. Adeus, casa nos Hamptons. Já para não falar dessa mancha no meu currículo: não ficar efectivada na minha primeira proposta de trabalho a sério.
Só queria chorar. O nó da garganta parecia que tinha meia dúzia de macacos em pânico a atropelarem-se uns aos outros nas suas descidas e subidas constantes. Quando o elevador parou, mal pude acreditar!
― Olha se não é o Cupcake mais gostoso que eu já provei ― disse Vítor, risonho.
― Não acredito que disseste isso em voz alta ― resmunguei, a forçar um sorriso para o grupo de homens com ar Para piorar: todos ficaram a olhar para mim como se fosse com eles que eu estava a falar. Ou estariam a olhar para o meu peito? Prefiro acreditar que era para mim…
― Não se preocupe, que os japoneses de Tóquio não costumam ter o português como língua materna ― retrucou, ainda a sorrir.
― Tóquio só pode ter japoneses. Querias o quê? Esquimós? ― retorqui, chateada. ― E o que é que estás aqui a fazer? Não deverias estar a defender gatunos em Nevada?
― Sou da filial de Nekane. Vim a trabalho, e você?
― Tenho uma reunião no décimo segundo. E diz-me que não fizeste isto!
― Estou com Você desapareceu, sua perturbada ― sussurrou ao meu ouvido, a apalpar-me o rabo. As minhas vistas quase devem ter saltado das órbitas, porque os japoneses viram muito bem aquilo. Ai se viram!
Fechei os olhos e tentei ficar calma para não causar a barafunda que me apetecia. Escândalo em cima de despedimento também era demais. O dia mal tinha começado e já estava tudo de pantanas. O pão meu de cada dia… Mal o elevador chegou ao décimo andar, saí sem proferir palavra. Não podia acreditar.
Já se tinham passado 4 meses, e há 2 que eu não pensava nele. Não era minimamente justo o Vítor aparecer assim. E que raios ele queria com aquele jogo todo de cintura, sussurros ao ouvido e exageros de mão? Nem sabe quão perto esteve de ficar com as minhas digitais espalhadas pela cara. E ainda dizem que não tenho autocontrolo. Naquele elevador eu fui a rainha do autocontrolo. Aprende, que eu não duro para sempre.
Apressada, dirigi-me para os fundos e subi as escadas. Cheguei ao décimo segundo andar completamente esbaforida. Acho que custa mais subir do décimo para o décimo segundo, do que do primeiro para o terceiro andar.
Deve ser da altura… Ou então de eu encarar qualquer ginásio como um local de culto do mafarrico, com apenas três doutrinas: 1.º, ter coloração de pele o mais próximo possível de uma cenoura; 2.º, aprender inglês: C’mon, man! Go! Be strong! Basicamente o vocabulário acaba aí; 3.º, desfrutar de um corpo no formato de cone de gelado: fino em baixo, largo em cima.
Não serve para mim! Sou a favor de banhos de imersão, muita kundaliní e ioga.
Parei, ajeitei o casaco, ergui a cabeça e empurrei a porta pesada que dava acesso às salas do B&A. Aquilo estava um gelo. Com excepção de uma senhora mais velha, que entrara na casa de banho, não havia uma única alma penada por ali. Ou pelo menos era o que eu pensava até ser arrastada pelo Vítor para dentro de um depósito com mesas empilhadas.
― O que foi? ― perguntei, na defensiva.
― Estou com saudade, Cupcake.
― É melhor tirares o cavalinho da chuva! ― esbracejei, a tentar soltar-me.
Ele encostou-me à parede. Ficámos tão juntos que dava para sentir o seu hálito mentolado no rosto, à mistura com um aroma másculo, que nem sei se brotava da sua pele, se do fato Armani de lã penteada a roçar nas minhas pernas. A minha respiração acelerou, e não resisti, deixei que me beijasse.
Um beijo urgente, que quase me derreteu.
Sou uma fraca, eu sei. Mas soube-me pela vida, que queres?
― Pára, Vítor! ― disse, a empurrá-lo. Isto com os homens há que não lhes dar confiança demais. Primeiro um beijo, e logo a seguir já têm as mãos por todos os lados menos apropriados.
― Vou-te ver mais tarde? Agora tenho de trabalhar.
― Tchau, seu mimado! ― gritei.
Ao sair da sala fiquei mesmo decepcionada comigo. Uma das minhas resoluções de ano novo foi não voltar a ter contacto com ele, e, no entanto, ali estava eu, em chamas após um beijo. De pernas frouxas, segui para o WC. Retocar a maquilhagem sempre antes da reunião. Em especial quando se anda aos chochos com alguém.
Toda a ansiedade voltou de trambolhão! Refiz a pintura e analisei o resultado. Estava bonita e profissional: cores leves, cabelo solto e tailleur bege elegante DKNY, com frente plissada.
A 5 minutos da hora marcada, corri para divisão que me fora indicada no telefonema, uma antessala, outro espaço frio com aroma floral, decorado em tons de negrume.
Atrás de uma mesa escura, uma secretária mesolítica cheia de rugas, mas muito simpática. Encaminhou-me para uma sala luxuosa. Serviu-me água e pediu-me para aguardar. Aquela era provavelmente a sala mais grandiosa de todas até agora.
O nervosismo atacou.
Iria para o olho da rua, tinha a certeza. Nunca seria chamada para opinar sobre casos de grande repercussão nos média. Adeus, bónus milionário de final de ano e Louboutins de 3 200 libras. Teria de recomeçar num escritório medíocre, de escotilha virada para a cadeia. O meu estômago deu um nó. Fiquei enjoada.
― Estás a seguir-me? ― perguntei mal ele entrou na sala, inundando-a com o seu perfume.
― Eu é que pergunto isso. E isso é papel higiénico no seu sapato?
Olhei para o chão e Santa Prada de Milão! Havia quase um rolo preso à sola. Vergonha total!
― Não é da tua conta! ― falei, humilhada, a arrancar o papel. Depois coloquei-o no lixo. ― Tenho uma reunião aqui. Tens de te ir embora antes que alguém chegue ― empurrei-o pelas costas.
― Calma, Cupcake. Você tem a certeza de que a sua reunião é aqui?
― Tenho. Por isso é melhor pores-te a andar antes que eu chame a segurança.
― Hã… você não quer fazer isso.
― Quero e vou! Nem que seja para me levarem e manterem-me afastada das tuas mãozinhas habilidosas. Seu mãos de polvo!
― Você não vai chamar segurança nenhuma.
― Porquê? Por acaso és o Batman e vais deslizar na tua capa? Já sei! Vais juntar toda a gente numa sala e fazer distribuição de chochos ― disse, a deitar-lhe a língua de fora.
― Você é muito perturbada ― redarguiu, risonho.
Fiquei sem saber se estava a falar a sério ou se era apenas mais uma provocação barata. Depois, de sorriso rasgado, inspirou fundo e passou os olhos no papel que trazia:
― Acho que a sua reunião é comigo.
― Usaste drogas? Já te disse que isso faz mal! E porque é que eu teria uma reunião com um advogado de quinta categoria?
― Você não faz ideia da minha posição na empresa, pois não?
― Não, porquê? Eu devia?
― Sim, você de-ve-ria, Beatriz.
― Desde quando sabes o meu nome?
Já cheia de cagaço, corri para a porta, mas ele segurou-me no braço.
― Dá para você se acalmar?
― Não!
Tentei libertar-me, mas ele não me soltou. Olhou-me sério por um momento. Depois, a sua face ficou dura. Nem um músculo se movia. A sua expressão era uma tela em branco. Para começar a falar, ele colocou o indicador na minha boca e proferiu com falsa solenidade:
― Cupcake… acho quse sou seu futuro chefe.
― Nos teus sonhos, não é? O meu chefe chama-se Shay Bettencourt.
― Sim, e eu sou Vítor Bettencourt. O Ivan, o Aike e o Shay são meus irmãos. Somos os quatro sócios-proprietários do B&A.
― Querias tu! ― gargalhei com nervosismo. A minha vida estava a andar para trás. Tipo, até à pré-história.
Impaciente, tirou a carteira do casaco e entregou-me a carta de condução. Foi como se tivessem implodido um prédio comigo dentro. O coração batia-me ferozmente e fiquei com falta de ar. Onde, quando, como? Nas fotografias que vira dele nas revistas, ele usava bigode, aparelho nos dentes, cabelo rapado, e era sempre mencionado como Bettencourt Júnior, nunca, friso, nunca como Vítor!
― Desculpe, Cupcake ― pediu, ao acariciar o meu rosto. Afastei-me bruscamente.
Ele estava a enganar-me. Eu só queria sair dali. Que tola! E acima de tudo: burra! Devia ter investigado. Pelo São Louboutin! Quando conheci o Vítor, ele estava hospedado no Four Seasons. Porque é que pensei que era um
advogado insignificante?
― Você está bem? ― quis saber, a cortar o silêncio entre nós.
― Claro que não! Mentiste-me! Pensei que trabalhavas para o B&A, mas afinal és o dono! DONO! Devias ter dito isso há bocado!
― Espera aí! Você acha que eu sabia quem você era? Que tinha ideia de que a Cupcake e a Beatriz do currículo eram a mesma pessoa? Nossos currículos vêm sem fotos para não influenciar nas escolhas, é política do escritório. Você também não fazia a menor ideia de quem eu era.
― Tu és o Ordinário que me desvirtuou! Tarado!
― Fala a virgem! Se alguém aqui tem a obrigação de saber quem é quem, é você! Somos apenas quatro sócios-proprietários. Você não espera que eu saiba o nome de todas as advogadas?!
― Não, só daquelas com quem trocas linguados.
― Ei! Não sou de ficar pegando qualquer uma.
― OK! Já percebi, vou para o olho da rua, é isso?
― Claro que não, sua perturbada. A reunião é para dizer que você não vai mais para Faro, e sim para Nekane, repito: Nekane, não Nevada.
― Nekane?
― Sim, vamos trabalhar juntos se você aceitar. Há mais chances de promoção em Nekane. Aliás, em menos de 2 anos você seria advogada plena.
― Jamais! Prefiro ficar sem casa nos Hamptons! ― recusei e encostei-me à secretária.
― O quê?
― Nada! Vou para casa. Chega destes joguinhos.
― Deus do céu! Quanta perturbação. Você já trabalha para mim.
― Ah é? Eu aceitei, por acaso? Não te respeito. Não é possível respeitar um ordinário como tu. E depois ― engoli em seco ―, também não me respeitas. Portanto…vou fazer as minhas contas e sair.
― Pára com isso. Eu respeito todas as minhas funcionárias, principalmente você.
― Pois! Claro que sim! Esperas que eu acredite nisso? A esfregares-te em mim como ainda há pouco? ― argui, enquanto franzia o cenho. Ele ficou com cara de espanto. Eu disfarcei. ― Não que me importe. Beija quem quiseres, desde que não te afiambres a mim.
― Nossa Senhora! É muita agitação numa só pessoa, mas eu me acostumo.
― NÃO VOU TRABALHAR CONTIGO! ― gritei.
Vítor, ao invés de recuar, cortou-me a fuga, prendendo-me contra a mesa. Pela segunda vez ficámos quase colados um ao outro. A minha cabeça a querer ir para um lado e o corpo a descambar no mesmo. O que é que eu tenho de errado? Porque é que ele desperta estas coisas em mim? Só pode ser macumba! Enfeitiçou-me nalgum quintal brasileiro cheio de galinhas pretas, carecas, de três pernas e vesgas! Não tenho dúvida quanto a isso.
― Você não tem saudades minhas? ― perguntou com voz fraca. Dedilhou a minha perna suavemente. Preguei-lhe uma chapada na mão.
― Ordinário!
― Que tal irmos embora fazer aquilo que você me está devendo? Depois resolvemos a efetivação.
― Não vou trabalhar contigo ― reafirmei, com a respiração pesada. Tive um déjà vu com a proximidade. Quando me segurou no queixo para me beijar, todo o meu desejo explodiu. Estava confirmado. Era macumba, e da forte!
― Vou almoçar no Ledbury, vens comigo? ― anunciou uma voz feminina.
Fiquei paralisada. Vítor colocou-se à minha frente.
― Não sabia que estavas acompanhado ― disse uma girafa loira, daquelas que me deixam a morrer de inveja: alta, longas pernas bronzeadas, cabelos dourados esvoaçantes e olhos azuis.
― Estou em reunião. Você precisa de mim?
― Não… vim chamar-te para almoçar, mas já vi que estás ocupado ― frisou, com um sorriso cúmplice.
Envergonhada, olhei para o chão.
― Vou comer mais tarde.
― Entendo…
Mal ela saiu, Vítor retomou o ataque. Empurrei-o com firmeza, apesar de toda eu tremer.
― O que foi?
― Vou-me embora.
― Ah! Pára, Cupcake. Apesar da cara de cobra, a Mariana é inofensiva.
― Inofensiva? Com apelido de cobra? Ela vai dar com a língua nos dentes! Toda a gente vai-se pôr a coscuvilhar que só fiquei colocada em Nekane porque andámos enrolados.
― Então você vai para lá?
― Vais usar cinto de castidade?
― Só se for você a colocar em mim… ― sorriu, maldoso.
― Estou a falar a sério, Vítor! Não tenho outra opção, pois não?
― Demissão? ― mordeu o lábio e continuou. ― Os advogados vão para onde são enviados. Quando não querem, são demitidos. Mas como a gente tem uma história ― fez uma pausa e, desolado, passou a mão pelo rosto ―, você pode ir para Faro, não acho bom para a sua carreira, mas se é o que você quer…
― Se eu for para Nekane, prometes que não vais andar a fazer destas? Tipo a tentares agarrar-me quando não quero?
― Claro que não! Mas qual o problema de a gente se ver?
― Fica mal para mim! Santa Prada de Milão! Mais uns minutos e a loira tinha visto o vaivém desse rabo cabeludo!
― Minha bunda não é peluda! E você está me autorizando a avançar, é isso?
― Olha, não me confundas, OK? Nunca vi o teu rabo, nem vou ver! O que quero dizer é: íamos sendo apanhados e toda a gente ia ficar a saber.
― A Mariana é ex-mulher do Shay e sócia do escritório. Não está em posição de fazer fofoca, mas se você quiser, eu falo com ela.
― Faz isso! E já agora, aproveita e esfrega-te também! Antes ela que eu!
― Deus do céu! Você está com ciúmes da minha ex-cunhada?
― Ciúmes? Eu? Está visto que não me conheces. Roça-te em quem quiseres. Desde que não seja comigo, nem quero saber ― menti e continuei: ― Vou-me embora. Tenho de mudar as etiquetas das malas e comprar uma passagem para Nekane.
― O escritório vai cuidar do bilhete. Já que você já fez as malas… Que tal a gente ir para o meu hotel? ― sugeriu, sedutor, os olhos verdes mais brilhantes do que nunca. Resisti valorosamente.
― Não volta a acontecer, ordinário! ― ameacei, ao sair da sala.
Posso não ter entradas triunfais, mas algumas das minhas saídas são em estilo. Vítor não veio atrás, felizmente. Porquanto estava com vontade de lhe bater e sem grandes inibições ou desejo de me conter. Apesar de ele apregoar que tenho mais oportunidades de carreira em Nekane, a ideia de fixar residência num país que só visitei uma vez não me agradou nada. Muito menos a de trabalharmos juntos.
Não que ande com vontade de regressar ao Algarve. São Louboutin sabe bem como adio essa viagem por causa da Francesca. Ainda assim, em tempo algum pensei em ir morar para outro lado.
Com sentimentos contrários, saí do edifício e rumei à estação. Estava confusa, nauseada, e, acima de tudo, indecisa. Liguei ao Lipe.
― Estás onde?
― Em casa, why?
― Quinta do Lago ou Nekane?
― Nem good morning, nem nada? Cadê o love?
― Responde, por favor.
― Algarve, gata, vou para Nekane sábado ao final do day, porquê?
― Acreditas que me transferiram para lá?
― Really? Que maneiro!
― Não tem nada de bom ir morar para um lugar que mal conheço.
― Ué, você também não quer return.
― Quem disse? Claro que quero! Só que não agora. Preciso de mais tempo longe da Francesca.
― Sei… Se é assim, porque não recusou?
― E argumentar o quê? Que não posso ir para Nekane porque tenho mulher e filhas no Algarve?
― Marido e filhos, honey, a expressão é marido e filhos.
― Seja lá o que for, o que é que isso importa agora? Vou para Nekane trabalhar para o Ordinário de Nevada!
― Wait! Onde é que o dirty entra nisso?
― Ele chama-se Vítor. É o quarto sócio-proprietário do escritório. O único que eu não conhecia pessoalmente!
― Dear God! E agora, chuchu?
― Estou feita ao bife! Vou para Gastón.
― Bom, eles podiam ter-te mandado para onde Judas lost as boots.
― Não quero ir para Nekane. Para isso, mais vale o Algarve.
― Deixa de histórias. Os únicos planos que você tinha eram para ficar bem far away daqui. Pelo menos não precisa mais usar a desculpa que um mouse roeu seus documentos.
― Olha, não me vou pôr a discutir contigo.
― Tudo bem. I have to go. Estou desde madrugada orientando a solução de problem no software de um client. Dá uma olhada no e-mail. Vou-te reencaminhar uma matéria sobre Gastón.
― Sem spam!
― Chill, gata… chill… você anda muito stressed… faz como eu, vai ao spa, que isso passa ― disse, antes de desligar.
Fiquei ainda pior. Tinha esperança de que ele arranjasse uma solução milagrosa para eu poder regressar ao escritório e dizer ao ordinário do Vítor que não podia ir para Nekane. Mas o Lipe falhou-me. Coninhas!
Fiz o caminho de regresso, inchada de raiva. E agora estou a comer cupcakes da Bake-a-boo, por ironia do destino!
O problema é que o Lipe tem razão. Eles podiam ter-me mandado para algum lugar diabólico com dragões-de-komodo. O B&A tem escritórios em países bizarríssimos, então, por esse lado, Gastón não é de todo o fim do mundo, mas… por amor de Deus! Porquê sempre tanta confusão com a minha vida?
Não! Não posso trabalhar para o Ordinário! O nosso começo foi péssimo, e não, não te vou contar como fiquei íntima do meu futuro chefe. Em minha defesa, eu nem sequer sabia a sua identidade. Estou humilhada demais para isso. Apenas te digo que momentos extraordinários foram vividos por mim.
Hum, vou ver se o e-mail chegou.
Bia, tens novas mensagens de e-mail
De: Lipe filipeleman@gmail.com; CNG noticias@reinodegaston.com
Para: RE: Bia biaikyalves@gmail.com
Enviada: sexta-feira, 28 de Fevereiro 14:23:55
Olá, Filipe Leman:
A Central de Notícias de Gastón não pára de repetir: você é um cliente muito importante. Lamentamos informar que o período de teste da edição virtual acaba de expirar. Como queremos que continue a desfrutar da nossa publicação, temos uma oferta para si.
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Matéria de Ouro do mês: O Reino de Gastón
*Reino de Gastón*
Lema: A sorte ajuda os fortes
Hino nacional: Ó Deus, Abençoa Gastón
Ó Deus, abençoa Gastón,
Terra de mares e montanhas.
Honra assim a sua história
E os que buscam a sua glória.
Dispersa os seus inimigos
E torna forte esta nação,
Que conheço como terra mãe,
Que corre nas minhas veias,
Que mora no meu coração.
Ó Deus, abençoa Gastón.
Subdivisões: 8 condados e 1 arquipélago
1. Niceto; 2. Antiqua; 3. Pampulha; 4. Solano; 5. Florián; 6. Santa Inês; 7. Lisardo; 8. Nekane; 9. Arquipélago de Ventura: Ilhas de Groselha, Santa Cruz, Horizonte, Solar
Gentílico: gastonês, gastonesa
Língua oficial: português gastonês (PT-RG)
Área total: 83.582 quilómetros quadrados
Capital: Nekane
População total: 11 554 298 habitantes
Produto Interno Bruto total: US$ 490,509 mil milhões
Regime político: monarquia parlamentar
Chefe de Estado: Vossa Majestade Dénis I
Chefe de Governo: Sua Excelência Cristóvão I
Moeda: Reinos (R) (RGR)
Geografia: Gastón fica na Europa. A Este tem como fronteiras terrestres Portugal e a Espanha. A Norte, Sul, Este e Oeste é banhado pelo Oceano Atlântico
Clima: temperado marítimo, com Invernos frios com precipitações irregulares; Verões frescos e húmidos
Principais cidades: Nekane, Santa Inês, Antiqua e Niceto
Página do Governo: www.reinodegaston.com
Da sua história sabe-se:
80 a. C.: ocorre a passagem dos cartagineses, seguindo-se a dominação romana.
300: controlo visigótico após a queda do Império Romano do Ocidente.
930: Enrico Franco Gastón, filho ilegítimo de Carlos Magno, subjuga a área. É numa viagem-campanha entre Aragão e Castela que este acaba por ser derrotado pelos mouros. É deste período, em que a região esteve sob o domínio de Enrico Gastón, que provém o nome do Reino.
1300: durante o reinado de D. Afonso XI, rei da Espanha, Gastón é acoplado ao território Espanhol.
1492: chegada à América pelos Espanhóis. Em simultâneo com a busca do Eldorado, advém a exploração sistemática de metais preciosos em Gastón. É com a exploração dos metais preciosos que Gastón se desenvolve.
1706: a meio da Guerra da Sucessão Espanhola, e subsequente redução do poderio militar espanhol, as tropas portuguesas, comandadas pelo general-coronel Manuel Vitorino, realizam uma triunfante invasão marítima e terrestre a Gastón. Durante os 100 anos seguintes, Portugal domina a região.
1807: Jean-Andoche Junot invade o território português, iniciando a Guerra Peninsular. A família real gastonesa, controlada por Portugal, passa a ser controlada pelo francês, que recebe o título de Primeiro Duque de Abrantes.
1812: as tropas francesas abandonam Portugal, em virtude das vitórias inglesas.
1820: instauração do regime constitucional-liberal em Portugal. Gastón regressa à alçada portuguesa.
1927: ocorre a Rebelião militar, em Lisboa e no Porto. Aproveitando-se disto, Florián, general do exército de Gastón e filho bastardo de Dom Manuel II de Portugal, inicia uma triunfal campanha contra Portugal. Gastón adquire a independência e Florián é proclamado rei. No mesmo ano, é elaborada a Constituição do Reino de Gastón.
1943: em plena Segunda Guerra Mundial, Florián morre com cólera, legando o trono à sua única filha, Floréense de Florián. A herdeira, que fica conhecida como Princesa Floréense, tem apenas 21 anos.
1947: reconstrução de Gastón como parte do Plano Marshall.
1984: abdicação da rainha… Todos os seus direitos e pretensões ao trono transitam para o seu único filho, Afonso I.
1986: morte da rainha Floréense.
2013: inicia-se o reinado de Dénis I, coroado após a abdicação do pai, Afonso I.
Esta oferta é apenas uma das formas que o grupo Central de Notícias de Gastón
encontrou para agradecer a sua preferência
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Frederico Rebull, Director de Marketing
CNG ― Algo de Novo no Ar Todos os Dias
A SÉRIO? Ninguém em plena consciência aceitaria mudar-se para um país desses, com uma moeda cujo símbolo tem um acento circunflexo invertido em cima. Porém, comigo a crise vai mais fundo. Sem contar que sou obrigada. Mas vá, talvez Gastón não seja assim tão mau. Embora com 1,00 reino a valer 1,80 euros, atingir a ruína financeira não será difícil para mim.
Até tive inúmeras oportunidades de ir a Nekane há uns anos, quando a Leman Software, empresa do Lipe, abriu uma filial lá. Mas só fui uma vez em Outubro do ano passado, fiquei 2 dias com ele, não vi nada e desgracei-me toda. Falarei sobre isto mais adiante.
De qualquer modo, mal saí de lá, fui direitinha para Cambridge, para a minha vida bem mais pacata e controlada. Não faço a menor ideia que tipo de cidade é Nekane.
Já agora, Filipe, ou Lipe, como prefere ser chamado, é o meu melhor amigo, dividindo funções com a minha irmã, se bem que eu e ela não somos propriamente unha com carne. Ele é brasileiro e tem 43 anos. É magro e de olhar aliciante. Formou-se em informática e tem vindo a aumentar o seu património com a criação de software especializado para empresas.
É filho de pais ricos e requintados: o que lhe adiciona uns zeros à conta bancária. Efectivamente, nenhum dos Leman é estranho às capas das revistas do jetset.
O nome dele aparece amiúde nas colunas sociais dos grandes jornais: já apareceu na capa da People, no TMZ e no site gastonês Celebridade Fofoca!. Lipe não se importa nada com essa publicidade extra.
Lipe é daqueles que se encontra sempre disposto a ajudar qualquer aspirante a modelo a subir na carreira, desde que primeiro visite umas vezes a sua cama. Como passa metade do seu tempo a viajar pela Europa e Estados Unidos, ganhou o hábito excêntrico de misturar o português com o inglês.
É um homem extremamente cobiçado. Suponho que muitas mulheres vejam ali um casamento fabuloso. Até porque ele é bem-parecido, com um ar sedutor natural, que só tem ficado mais perigoso com os anos.
O que elas não sabem é que o Lipe não é só polivalente em Informática…
Não encontrou a porta de saída do armário e nem precisa. Da mesma forma que não assume as relações com as inúmeras parceiras, também é igualmente displicente com as suas necessidades homossexuais. Dá umas escapadelas quando lhe apetece e pronto! Mulher perto de Lipe é receita para drama e confusão. Sair com ele é sempre um filme. Na realidade, acabou de ser a sensação do Celebridade Fofoca!
Celebridade Fofoca!
Em destaque esta semana
FILIPE LEMAN, FUNDADOR E CEO DA LEMAN SOFTWARE,
ANDA NUMA MÁ FASE…
Além de estar sempre metido em diversas rodinhas de blá-blá-blá sobre as suas reconquistas sexuais, o empresário teve a brilhante ideia de aceitar uma conversa com a revista Playboy Gastón.
Falou de drogas, Viagra, e até sobre o tal envolvimento com o amigo travesti.
“O que vocês querem know? Estou aqui, ask me! Sou um open book!”
“OH YES! Of course que já experimentei drugs! Quem never? LSD! O problema é que eu achei que era um rockstar e me joguei na audience para ser carregado pela multidão… Na realidade, eu jumped mesmo do meu sofá e aterrissei de face no floor! It hurted tanto!”
E tem mais: ele disse que tomou o comprimido azul e não gostou. “Não foi legal. Meu nose bled e a rigidez não compensate. Estava alone! A model furou comigo, você believe?”
Mas a melhor resposta está directamente ligada à desventura para lá de comentada do milionário com a moçoila XY, com quem fora flagrado ao entrar no hotel Hilton Nekane na semana passada. A loira de olhos verdes era efectivamente um travesti.
“Foi um erro, people! Como é que eu ia know que aquela hot woman calçava mais que eu? Que era um ovo Kinder e trazia surprise? A big, big mistake! Não consumado! Escreve aí em big letters: NOT CONSUMMATED!”
Mas será que o empresário, modelengo, ainda não aprendeu que quando tudo vai mal, quando a água está a bater no rabo, é melhor respirar fundo, prender a respiração e ficar quieto, para não se afogar de vez?
Leia na íntegra a reportagem em
www.reinodegaston.com/celebridade-fofoca/
Celebridade Fofoca! ― O Ópio da Sociedade
Vês? Bem-vinda ao meu mundo.
Conheci Lipe através da Tasha, com quem namorou. Isto sempre me baralhou, já que ela é uma chata, e ele completamente o oposto, um iconoclasta sexual…
Sinceramente, não sei como é que o Lucas atura a Tasha vai para 12 anos. Para mais com as duas melgas que têm por filhos. Só de pensar neles já fico com os cabelos em pé. Ainda assim adoro-os, claro.
Tasha das Mãos Leves anda sempre vestida para matar by Prada, e qualquer marca caríssima que possas imaginar. Apesar de sermos irmãs, de nada se parece comigo. Ela é loira, linda e maravilhosa! Sim, tipo a girafa da Mariana, só que muito mais gira.
Passei metade da minha vida a morrer de inveja, mas apenas no requisito de beleza, porque, aqui entre nós, a Tasha terminou o secundário com uma média vergonhosa, no entanto, com umas doações dos nossos pais a determinada universidade, a Mãos Leves lá conseguiu entrar e licenciar-se em Farmácia com honras.
Tenho para mim que ela pagava a alguém para lhe fazer as provas. No mínimo, conseguia as mesmas com antecipação, porque não é possível que uma sujeita que passou a vida em cima do muro com notas medíocres tenha conseguido lugar no quadro de honra da universidade.
Isso não muda o facto de que é uma chata e fez a minha vida um inferno. Vou dizer-te apenas algumas das coisas simpáticas que ela fazia comigo quando éramos mais novas: apagava as luzes quando eu estava na casa de banho; colocava espuma de barbear na minha mão enquanto eu dormia, depois fazia-me cócegas no nariz, eu ia coçar-me e ficava com o rosto cheio de creme; enviava mensagens do meu telemóvel para os meus colegas a dizer que eu os achava bué fofos e que queria trocar uns chochos com eles; atirava-me balões de água sempre que a nossa mãe terminava de me secar o cabelo… Eu poderia continuar por horas a descrever as coisas que ela me fazia, mas não tenho tempo para isso.
Só a Santa Prada de Milão me dá forças para aturá-la. O que tem em beleza falta-lhe em discernimento. Aquela mulher é um mar de encrencas.
O Lucas é o Santo que toda a gente confunde com um terrorista. Carrega uma marca, que vai desde a parte inferior da bochecha esquerda, corre em direcção à sua narina direita e termina acima do olho direito. Um fardo doloroso do seu passado. Disparou contra si na tropa ao limpar a arma. Apesar de mal-encarado, barba por fazer, olheiras, tem um coração de manteiga, o que ajuda a suavizar a arrogância desmedida da Tasha das Mãos Leves.
Raios!
A Francesca mandou outro e-mail a exigir que lhe dê o meu endereço. Insiste que está na hora de enfrentar quem somos e parar de fugir. Que devemos superar os preconceitos sociais e conversar. Se ela pensa que isso vai acontecer, está bem enganada! Prefiro aturar o Ordinário e morar em Gastón. Eu e a Francesca, conversarmos? Jamais! Lugar de ex é no passado!
Muito divertido o livro! Comecei a ler despretensiosamente, e depois fui vendo como a autora se esforçou para criar o universo em que se passa a história, recheada de um humor leve. Bia, a protagonista, me deixou preocupado com sua questão financeira e outras mazelas, mas não o suficiente para deixar de aproveitar a deliciosa e engraçada trama. Ah, sou brasileiro, e estar escrito em um português mais lusitano não atrapalha em nada a leitura.
Apesar de todo o glamour e requinte que a rodeiam, Bia Alves é provavelmente uma das personagens mais desastradas de sempre, mas, como a Irina bem sabe, é assim que a queremos. Afinal de contas esta é uma comédia romântica de toques bem portugueses, composta por um sólido elenco de cromos, incapazes de evitar a catadupa de alhadas em que nos transportam. Se a vida é um circo, então Bia Alves encontra-se ao centro do palco, a nossa inusitada mestra de cerimónias.
Um cocktail perfeito para rir e esconder o rosto de pura vergonha alheia! Pelos santinhos literários, perdi a conta das vezes que escondi o rosto. Uma história deliciosa. A Bia é uma personagem única e divertida, que tem de lidar com as intempéries da sua vida. Poderia ser a vida de uma de nós, leitoras, e dificilmente nos deixa indiferente.
Improvável, mas surpreendentemente divertido, parte de uma sucessão de circunstâncias singulares para contar uma história de amor extravagante, relações atribuladas e uma protagonista que é estranha, sim, mas com quem é absurdamente fácil simpatizar. Peculiar, mas cheio de surpresas, um livro inesperadamente viciante.
O Diário Para uma pessoa perfeitamente imperfeita como eu, um título e uma sinopse como está “gritam” lê-me! A Princesa Desencantada, de @irinasopas é uma autêntica comédia romântica (tudo o que eu precisava no fim-de-semana passado, depois de um livro que me deixou em ressaca literária). Perfeição aqui é coisa que não entra, uma vez que estamos perante a personagem principal mais desastrada, infantil e infortunada de sempre. Beatriz Alves (a nossa personagem principal) é uma filha de novos ricos algarvios, acabada de chegar ao mundo do trabalho, é transferida para a filial em Gastón da firma de advogados onde trabalha. Chegada a este paraíso fiscal Bia apaixona-se pelo Príncipe Playboy do condado, enquanto tenta recuperar da desilusão amorosa provocada pelo marido e luta contra sentimentos contraditórios pelo patrão. Um trapalhada surpreendente que arranca alguns sorrisos e gargalhadas. Aconselhável para aqueles dias em que precisamos de uma leitura leve e corrida.
Não consegui gostar do livro, a personagem principal começou a irritar-me e todas as interações pareceram mt forçadas e demasiado caóticas e grosseiras. Não me importo de ler clichés mas achei que não foram bem trabalhados. Também não gostei de se usar muito inglês /salientar sotaques no meio do discurso.
De pequenos elementos especulativos, A Princesa Desencantada é um romance leve e divertido, num tom que é pouco usual ver no mercado português, mas que se torna movimentado, engraçado e proporciona uma boa distração enquanto leitura.
- A história
Bia, uma jovem advogada, arranjou um novo trabalho numa multinacional. Blogger estilosa, é transferida para o escritório de Gastón, um reino na Península Ibérica que serve como paraíso fiscal, refúgio para lavagem de dinheiro ou estadia para mafiosos. Sem um ordenado que corresponda aos seus gastos, Bia provém de uma família de posses altamente disfuncional: a mãe é obcecada pelas cirurgias plásticas, o pai procura remédios para aumentar a “enguia de bolso”, e a irmã é uma cleptomaníaca. Para além destas ligações familiares, o passado de Bia é assombrada por uma ex possessiva e perseguidora.
A mudança para Gastón também não se faz de forma isenta de conflitos, pois irá acompanhar o chefe pelo qual nutre sentimentos contraditórios e acaba apaixonada pelo príncipe Carlos Henrique, um tenista mulherengo.
- A narrativa
A história é apresentada sob a forma de entradas no blogue, escritas por Bia. O tom é leve e divertido, contendo palavras e expressões criadas pela própria Bia. Entre o fascínio pelas roupas de marca (e um nível de vida que não consegue sustentar com o seu ordenado) e os conflitos amorosos, A Princesa Desencantada decorre num reino fictício, mas propício para as confusões de Bia.
A leitura é rápida, pontuada por diversos acontecimentos e pequenos conflitos ou dramas, que se sucedem criando uma história animada e capaz de proporcionar entretenimento. Não estando dentro dos meus géneros favoritos (é um romance, apesar do contexto fictício) consegue envolver e divertir, tornando-se ainda mais mirabolante do que O Diário de Bridget Jones.
- Conclusão
A Princesa Desencantada é uma leitura aconselhada para quem gostou do estilo de O Diário de Bridget Jones, contendo elementos mais atuais e mirabolantes. A forma como a autora escolheu apresentar cada novo capítulo permite foco apenas nos momentos principais, justificando-se os saltos temporais com a possibilidade de escrita pela personagem principal. A história diverte e proporciona momentos engraçados, e, apesar dos dramas, consegue manter-se ligeira. Será, decerto, uma boa leitura para quem gosta deste género.