Uns dias depois do meu editor dizer que iria trabalhar na minha segunda obra de poesia, e em pânico total por não conseguir organizar os meus livros de romance, enquanto publicações de “fulano ficou noivo de ciclana” ou “labetana vai ser mãe pela centésima vez” inundavam os meus olhos no Facebook, algo apitou na minha cabeça.
Tudo bem que aos 28 anos, a caminhar para os 29, eu não esperava ter uma carreira glamorosa, um marido perfeito, uma casa com cerca branca e menos ainda, um filho com bochechas coradas e QI de 200, mas um fato eu constatei: não invejando os noivados e as gravidezes alheias, e compartilhando das suas alegrias, eu estava longe disso. Longe mesmo, algo como a anos luz de ter até mesmo um tamagotchi que sobrevivesse por 24 horas.
Inicialmente, não identifiquei isso como um problema a longo prazo. Eu sabia que as coisas não estavam como planejado, se é que algum dia eu havia planejado algo, porém, eu desconhecia que o “buraco era tão fundo”, até porque quando a sua vida se resume praticamente ao Desemprego S.A, exercitar-se entre 2 a 3 horas por dia, jogar sudoku e mahjong, devorar todo tipo de literatura, encarar os seus próprios livros no Word na esperança que os bloqueios desapareçam, e atormentar a própria mente para resistir a quilos de gomas (jujubas), deliciosos snacks e ao pão de queijo da padaria em frente, fica complicado refletir intensamente.
Mas uma coisa eu não podia negar: eu estava confusa, e já havia algum tempo. Vivia três tipos de dias. Em alguns, os piores, eu acordava desesperada, angustiada, queria recomeçar. Conhecia a inutilidade em carne e osso. Por mais que já tivesse alcançado, não parecia o suficiente; sentia que decepcionara todos a minha volta e acima de tudo a mim mesma. Nesses dias, meu maior desejo era fazer uma mala com todos os meus sapatos – não iria embora sem eles – e desaparecer no mundo. Nos meus melhores tempos, ficava apática, só queria deixar tudo como estava – sim esses eram os melhores dias – eu simplesmente ficava como um quiabo na panela: flutuava, via a vida passar. Por fim, tinha os dias estranhos, ah esses malditos, em que pela manhã, as coisas pareciam tão erradas, abstrusas, sem futuro, e então ao entardecer, sem motivo algum, tudo aliviava. Era simplesmente bizarro.
Quase trintona, sem cabelos brancos (pelo menos isso), a dormir com o rosto empastado de anti-aging, onde qualquer bebedeira com mistura alcoólica vira uma catástrofe, penando no ginásio, prestes a formar-me em Direito, com uma carreira como escritora próspera, com o coração aos pulos, sem problemas financeiros, o que se passava comigo?
Conversando com um amigo que preferiu ter seu nome omitido, tive a resposta: “Bem-vinda a crise dos 30”, disse ele.
COMO ASSIM CRISE DOS 30? Gritou uma voz na minha cabeça, do que ele estava a falar? O que seria a crise dos 30? O que seria a MINHA crise dos 30? Devia eu pesquisar sobre isso? Não, eu não precisava, eu era a pesquisa, eu era a crise dos 30! Eu tinha a resposta.
Questionava-me com frequência para onde iria, ou até mesmo sobre quem era, sentia-me perdida, tinha esquecido a minha identidade. Perguntas e mais perguntas tomavam conta de mim. O que eu realizara? Seria orgulhosa demais? Existia alguma coisa que eu precisava deixar para trás a fim de seguir em frente? Havia algo mais importante e gratificante que eu podia focar? Que conversas tinha que me mantinham viva? O que estava disposta a fazer para mudar? O que eu mais queria na minha vida? Tinha algum desejo emergente? Estava presa em mim mesma? Chorava tentando ser livre? E os meus relacionamentos, em que pé andavam? Eu ao menos tinha algum? Que medos me apunhalavam? E a pior pergunta de todas: o que poderia fazer, que passo tomar para descobrir o que havia do outro lado? Estava mergulhada na desordem. Era pior que um Deus-nos-acuda. Não sabia se o meu futuro dar-me-ia felicidade e realização, isso para não falar nas prioridades: elas haviam mudado! O meu foco já não era o mesmo de anos atrás, não sentia a mesma empolgação quando saía para discotecas (mesmo que raramente), ou tinha necessidade de gastar dinheiro estupidamente; iniciar relacionamentos pré-datados, sem amanhã, nem pensar! “Antes só do que mal acompanhada!”, dizia a mim mesma e ainda acabava por sorrir. Sim eu sorria, tal era o meu desequilíbrio.
Bem eu decidi que precisava aceitar a realidade, meu amigo tinha razão, eu entrara na crise dos 30, na 3ª década, em que de acordo com Wilson Jacob Filho, do serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo “A 3ª década de vida marca o término da fase de desenvolvimento do corpo”, cruel não?
Continuando… Procurei várias definições sobre a “Crise dos 30” e nenhuma me agradou, desse modo, não irei aqui tentar definir esse “colapso” vou portanto, falar sobre a minha conjuntura dos 30, se é que assim posso chamar.
Beirando os meus 29 anos, a crise dos 30 para mim, não é sobre recuperar a “juventude” perdida (eu bem que tentei), está mais para encontrar algo que me deixe menos incompleta, focar na carreira, buscar na minha vida novamente significado e desafio. É neste ponto onde o meu desenvolvimento interior, as minhas decepções de sonhos não satisfeitos, de relacionamentos fracassados, ganham um novo rumo. Após refletir seriamente sobre as escolhas que fiz, sobre os sentimentos descritos acima, de vida presa, de estar numa dimensão diferente, do que a que eu gostaria de viver agora, e passar pela angústia dos últimos meses, em que perdi o meu equilíbrio (não é que eu seja muito equilibrada), eu cheguei do outro lado. Perdi-me para encontrar-me, e daí que no caminho eu não soube quem eu era? Que eu gastei tubos de dinheiro em anti-aging? Ou que descobri que em breve meus desejos entrarão em confronto com o famoso relógio biológico? Não, eu não tenho tudo, nem as respostas para todas as perguntas, apenas as suficientes, para seguir com meu autoconhecimento e auto-avaliação.
Após tudo dito e feito, analisado e narrado, digo a você que me lê, e acredita que sou maluca, que percebo a boa notícia de ter uma crise de 30 anos. É simplesmente fantástico.
Questionar a nossa vida, como mudar de fase, apesar de angustiante e desconfortável, é ótimo.
No meu caso, a minha vida vem progredindo – as rugas também – o importante é que eu desafiei o status quo da minha existência. Não sou mais uma estranha para mim mesma como nos últimos meses. Os meus dias ganharam sentido. Sei para onde vou, o que quero, e busco os meios de alcançar os meus desejos e objetivos; tornei-me mais próxima dos meus amigos, mais madura nas minhas decisões. E daí que continuo solteira? Talvez ainda não tenha conhecido o encantado, ou quiçá ele esteja distante, porém não perdi a esperança…
A minha irmã uma vez disse-me que depois dos 30, foi quando se sentiu mais mulher, sei que esse dia chegará para mim, sei também que, talvez no meio de tantas dúvidas e questões a melhor lição que aprendi foi compreender e aceitar que: não posso, nem devo comparar-me ao “fulano ficou noivo de ciclana” ou “labetana vai ser mãe pela centésima vez”, nossas vidas têm ritmos e desejos imprevisíveis, nós devemos respeitar as decisões dos outros quando se trata de família e carreira, enfim decisões de vida, e só igualmente chegaremos ao conforto e aceitação com as nossas próprias decisões, sobre o que podemos escolher para equilibrar a nossa vida. Por isso acredite! Se ainda há tempo e uma vida inteira pela frente para mim, há para você! Viva a crise dos 30, ou como você quiser chama-la; aceite-a, deleite-se, chore, sorria. Dê tempo a você, como eu dei a mim, pois uma coisa lhe garanto: você entrará nessa crise grande, mas saíra enorme! Eu saí!
ELAS, ENTRE MUITAS OUTRAS, TAMBÉM SOBREVIVERAM OU SOBREVIVEM A CRISE DOS 30
“Cheguei aos 30 e agora? Casada, 30 quilos a mais do que há 15 anos, dois filhos e um marido trabalhador. Não estava em um momento ‘princesa’ da minha vida, mas estava feliz, na medida do possível. Aprendi a ser dona de casa (na marra) e fui seguindo. Havia parado de estudar com 18 e aos 30 retornei. E foi uma das melhores coisas da minha vida. Não sabia cozinhar, aprendi. Senti que não estava ‘velha’. Com força e apoio aprendi a conviver com a depressão, síndrome do pânico e venci. Mas venci aquela fase. Outras virão. Basta sabermos que a cada fase estaremos ‘preparadas’ para cada uma delas. Não é fácil, mas com a força e inteligência que temos, sempre nos sairemos bem em qualquer uma delas.” (Bete F.)
“Depois de uma infância e adolescência totalmente ‘desajustadas’ do contexto, onde não me encaixava em nenhum padrão quando fiz 30 institui ali um marco da minha libertação dessas tentativas. Já tinha vivido uma união estável, já havia me separado, não tinha filhos, não estava estabelecida financeiramente e pensei que dali por diante, não tinha mesmo nada a perder. Meu irmão me deu de presente um relógio, que me acompanhou sempre simbolizando que o tempo passa, mas cabe a cada um de nós o que fazer com as horas. Não quis festa, não quis comemorar com os amigos. Fui dar uma volta no calçadão, bebi uma água de coco e celebrei ali o início do meu descompromisso com a vida… Aos 39 fui mãe e aí entendi que o compromisso é com os laços que a gente cria. Frustração pelo que esperam da gente é pura perda de tempo e depois dos 30 é bom que a gente aprenda a não perder mais tempo…” (Juli M.)
“Aos 30 anos estou eu separada e com 3 filhos, um deles com paralisia cerebral. Fui casada, separei, arranjei um outro parceiro, e estou num novo processo de separação. Sou bancaria bem-sucedida e continuo a estudar. Há tempos olhei para o espelho e perguntei: o que há de errado em mim? O que fiz da minha vida? Sinto-me cansada e sozinha, apetece-me fugir, esquecer tudo e todos, ficar numa ilha deserta, mas pensei seria infeliz na mesma, iria sentir a falta dos meus pequenos. A minha batalha com o meu filho especial depende tanto de mim… Quero ser feliz. Será que fui um dia? Será que fiz a escolha certa? Não sei a resposta e também não sei se estou a tomar as decisões certas, vou deixar nas mãos de Deus, vou viver um dia de cada vez, tentar errar menos, e acertar mais, nunca desistir. Vou terminar a faculdade, continuar a criar os meus 3 rapazes e lutar sempre para o bem do meu filho especial. A batalha é longa. Levanto, sacudo a poeira e peço a Deus que me dê forças, saúde e que me guie, porém as vezes tenho medo e sinto-me angustiada.” (Euridice C.)
“Minha crise! Tudo começou quando eu achava que já tinha desejo de constituir uma família depois da minha formação, isso as 26 anos. Me sentia uma mulher realizada e desejada por muitos homens, era chato viver com isso na minha cabeça. Apenas uma fase difícil. Quantas mudanças… Seria a crise dos 30? Ah, mas por quantas crises dessa já não passei? Nos 15, nos 20… Este ano completei 31 anos, mas já há algum tempo, eu venho triste, muito triste com o meio que vivia… Trabalhar com a terra é algo complicado. É um glamour que não existe, é meio de interesses e muitas outras sujeiras. Por mais que eu não estivesse ligada diretamente a muitas destas coisas, conviver neste meio já me machucou muito nestes meus 5 anos de trabalho…. E aí o amor pela coisa fala mais alto, aí você apanha um queda, respira, volta e vai seguindo… E eu sempre pensando: meus Deus, o que fazer para mudar isto? Para onde ir? 2013 entrou, parado quieto. Me dando tempo para pensar demais. O dinheiro mais saindo do que entrando. Toda aquela instabilidade que um freela conhece. Tempo de pensar e mudar. Tudo. E neste ano o meu desejo é aproveitar as coisas mais simples da vida, em cada detalhe. É amar muito mais, observar, viver, fazer a diferença. Mais que o incerto, o vulnerável machuca constantemente, isso sim, não tem como negar. Um ano de mais coisas sólidas e verdadeiras é o que eu desejo. Que este tempo ruim passe logo que está doendo. Dá pra resumir tudo em uma única palavra: tempo. Enquanto mostra que você está envelhecendo e precisa aproveitar cada minuto, ele o enche de cobranças para serem resolvidas rapidamente. Na verdade, é apenas um grande ciclo que se encerra na vida. A notícia boa é que vai passar. A ruim: logo, logo, vem o próximo.” (Tahicia B.)