Há umas semanas fui convidada pela querida Irone Jaeger para participar do FLAL – Festival de Literatura e Artes Literárias. O evento online no Facebook foi criado com o objetivo de divulgar a Literatura Nacional Contemporânea (brasileira) e ajudar na identificação da imagem do autor junto ao público. Apesar de ser direcionado aos autores brasileiros, o festival acabou por ser maior do que o Brasil e alcançou escritores de diversas nacionalidades e culturas, tal como eu.
Um dos desafios que me propuseram foi o de escolher dez perguntas e responder. Aceitei com toda paixão que me cabia e aqui está o resultado:
- FLAL: Para você, qual a definição de escritor?
IS: Acredito que existem algumas definições de escritor. A padrão seria a que vem no dicionário, o ato de escrever obras literárias ou científicas, contudo para mim vai além. Não é apenas colocar um texto no “papel” que o transforma em escritor, mas também, todo o processo com que se desenvolve o texto, a dedicação, o depositar a esperança de que alguém leia, as pesquisas, o desejo de se expressar e ser entendido.
- FLAL: O que é mais importante para você: Ser “imortal” numa academia, com toda a pompa e circunstância OU leitores interessados num livro escrito por você, autor desconhecido… a procura é pelo título!
IS: Com certeza a imortalidade literária é algo importante, mas a meu ver, o retorno dos leitores, as reações para com as nossas histórias são algo memorável e que engrandecem e incentivam o autor a continuar, a dedicar parte da sua vida aos escritos.
- FLAL: De que forma você escolhe o tema/mensagem para suas histórias? Ou essa preocupação para você é menos importante do que a história a ser contada?
IS: Acreditem ou não, em regra eu sonho com a história, embora admita que ao terminar a narrativa, a história de pouco se pareça com o devaneio. Os personagens têm formas únicas de nos passarem rasteiras e mudarem o rumo do enredo. No género de chick-lit tento abordar temas importantes e atuais da sociedade, embora de forma leve, como as dificuldades financeiras vividas pela maioria, preconceitos raciais, religiosos e até mesmo a orientação sexual. Já na fantasia histórica mantenho-me pelas figuras que mais me marcaram, como D. Sebastião, por exemplo, protagonista do meu livro (quase finalizado) A Fonte da Juventude.
- FLAL: Por que você escreve?
IS: Desde muito pequena me destaquei pelo capricho nas redações da escola. Acredito que escrever sempre fez parte de mim. Terminei o meu primeiro livro de poesia aos 13 anos. Resumidamente: escrevo porque sinto-me viva quando o faço.
- FLAL: O que um autor deve fazer para alcançar o sucesso?
IS: Não sei se existe uma “receita de bolo” para isso. Muitos autores na ânsia de alcançarem o sucesso acabam por seguir a manada. Ou seja, veem que determinado género literário virou um sucesso de vendas internacional e então decidem enveredar pelo mesmo, levando à saturação do mercado. O que eu posso dizer com certeza é que o sucesso (em raros casos contrários) apenas vem com a perseverança. É importante que um autor não desista, que insista nos seus objetivos e publique de forma regular. Hoje em dia existem plataformas gratuitas voltadas para autores e leitores que podem muito bem auxiliar o escritor neste caminho tortuoso que tem como destino o sucesso.
- FLAL: O que você pensa dos autores que lançam um livro atrás do outro, disponibilizam na Amazon, quase sempre para leitura gratuita… podemos chamar de literatura?
IS: Desconfio de autores que colocam mais do que um livro por ano no mercado, seja em plataforma gratuita, paga, formato digital ou físico. Acredito que muitos desses autores prolíficos ou têm obras engavetadas (que não revisam porque o processo de revisão é moroso e acabam por publicar os livros com muitos erros); ou fazem uso de serviços pagos de escritores fantasmas. Respondendo a segunda parte da pergunta, não diria que não se enquadram na literatura, mas não saberia dizer se têm qualidade. Deixo essa questão qualitativa para os leitores.
- FLAL: É possível viver da literatura? Dá para pagar as contas?
IS: Sim, muitos autores vivem inteiramente dos lucros das vendas dos seus livros. Infelizmente não são todos que conseguem esse retorno.
- FLAL: O que fazer para melhorar a interpretação de textos nas redes sociais? Alguns não conseguem entender nem uma simples frase, como resolver isso?
IS: Não acredito que o problema da interpretação de texto nas redes sociais tenha a ver com as “redes sociais”, e sim com a falta de alfabetização de muitos. O problema do não entendimento ou má escrita é anterior às redes sociais. Vem da ineficiência e decadência do ensino escolar, que se verifica muito nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimentos, onde o acesso à boa educação, infelizmente não é para todos. Cabe aos mais instruídos ajudar, colocando textos pouco rebuscados para que cheguem aos olhos e sejam interpretados pelos diferentes níveis de leitores.
- FLAL: Qual sua opinião sobre o uso indiscriminado de imagens de celebridades, nacionais e estrangeiras nas capas e divulgação de livros, disponíveis na Amazon?
IS: Falta de identidade do autor, pois acabamos por ver as mesmas “caras” em centenas de capas e imagens de divulgação de escritores diferentes. É um problema em massa que não só fere a capacidade imaginativa do leitor como acaba por não despertar o interesse de quem vê, pelo menos o meu.
- FLAL: A profundidade psicológica de uma personagem deve ser mais importante do que a mera sucessão de ações na trama. Concorda?
IS: Não. A profundidade psicológica do personagem deve ser trabalhada com igual importância em comparação com o enredo e as ações que nele se desenvolvem. Conhecer o psicológico do personagem é imprescindível, pois evita que o autor cometa erros ao longo da trama. Não adianta desenvolver um bom personagem e deixar a trama fraca. O mesmo acontece com uma excelente trama, mas um personagem plano, superficial que não desperta empatia no leitor. As duas estão direta e proporcionalmente ligadas e por isso deve existir um equilíbrio.
Espero que tenham gostado das perguntas que escolhi e acima de tudo das respostas.
Autora: Irone Jaeger
Fonte: FLAL – Festival de Literatura e Artes Literárias